Barcelona: Uma Reflexão sobre a Perenidade e o Devir
Oh, Barcelona. Cidade que oculta, em suas lajes milenares e no arcano de suas catedrais, a quietude de inumeráveis narrativas. A Passagem de Gràcia se desenha como um traçado de opulência, enquanto a Sagrada Família, magnificência gótica ainda em edificação, ressoa em ecos melódicos, como outrora cantada por Allan Parsons.
E o Tibidabo, elevação que se ergue como um pináculo de contemplação, oferece a glória de uma vista panorâmica. Não é apenas geografia, mas uma etimologia. Do latim, "tibi dabo" – "eu te darei" – ecoa a tentação diabólica, num paradoxo fascinante: o paraíso terreno ali, acessível ao olhar, evoca a prova bíblica. A generosidade divina se manifesta em sua beleza natural e arquitetônica.
Nas praças, a melodia das orquestras se entrelaça com o ritmo da sardana, dança catalã que celebra a identidade local em união e passos firmes. Um espetáculo que se grava na memória, inesquecível. A urbe, em suas diagonais e traçados urbanísticos, demonstra uma inteligência de acesso, aproximando os extremos, conectando as partes de um todo complexo.
As praias, grandiosas em sua extensão, são palcos de liberdade e naturalidade, onde a beleza corpórea se exibe sem pudor. Surge então o questionamento da identidade: "És catalã ou espanhola? Por que tua fala difere? Por que o restante do país se contrapõe a ti?". Uma interrogação que perpassa a história e a política, mas que aqui transcende o debate meramente territorial.
Não te deixes inebriar pela vaidade, Barcelona, pois a soberba precede a ruína. Lembra-te: antes de qualquer gentílico ou identidade política, somos criaturas do Eterno. A humanidade, em sua essência, nos define.
Las Ramblas, de antigo leito fluvial a artéria vital, pulsante centro de comércio e efervescência social e cultural. Ali, em um banco, repousávamos, absorvendo a serena passagem da vida, a quietude aparente das almas que cruzavam nosso campo de visão. Os cafés e bares, os restaurantes, e, claro, o secular La Boqueria, que oferece um festival de aromas e sabores, digno dos paladares mais exigentes.
Conversávamos sobre a magnificência e a segurança que a cidade irradiava, um porto de acolhimento. Mal sabíamos que a ilusão da paz é frágil, e que a maldade reside também nos corações perversos. Uma semana depois, aquele mesmo banco em Las Ramblas tornou-se palco de uma tragédia, onde o terror ceifou vidas inocentes. Um livramento do Eterno, por um acaso do destino que nos afastou daquele exato momento. O tempo, porém, não ofuscou teu brilho, Barcelona. Continua a reinar soberana.
Mas que jamais se esqueça, Barcelona, que acima das raças e das fronteiras, somos um só povo, criaturas de um só Deus. Que sigas dançando para o mundo, na ponta dos pés, braços erguidos, mãos entrelaçadas em um gesto de fraternidade e união. Não ergas muros, nem barreiras intransponíveis. Constrói pontes que permitam o fluxo do amor, da paciência, do acolhimento. Recebe o mundo com alegria, pois é ao pó que retornaremos, nus chegamos e nus partiremos.
Uma palavra branda acalma as tensões. Aquilo que se planta, se colhe. Possuis boas sementes; não permitas que o orgulho as sufoque. Semeia-as com maestria e amor, e colherás os melhores frutos da vida. Com os braços abertos, serás anfitriã exemplar e, com humildade, serás recebida em cada canto da terra.
Oh, barceloneses, nunca vos esqueçais de vossas origens. Que cada um de nós seja artífice da ponte do amor, da esperança, da bondade e da paz.